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Esperar contra toda a esperança
Público, 17 outubro 2021
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ESPERAR CONTRA TODA A ESPERANÇA

Frei Bento Domingues, O.P.

1. No passado dia 10, foi aberto, oficialmente, um novo Sínodo da Igreja Católica (2021-2023). A palavra sínodo deriva de dois termos gregos: syn(juntos) e hodos (caminho), isto é, caminhar juntos. A seguir ao Concílio Vaticano II, o Papa Paulo VI, a 15 de Setembro de 1965, instituiu o Sínodo dos Bispos, para continuar o acontecimento mais importante da Igreja Católica do século XX. Até hoje, foram realizados 29 sínodos.

O que o Papa Francisco inaugurou, agora, não pertence propriamente a essa série. Pretende ser um Sínodo de toda a Igreja Católica e aberto a toda sociedade. É a maior consulta celebrada na história do catolicismo. Cerca de 1300 milhões de católicos estão chamados a exprimir-se sobre o futuro da Igreja num processo que vai durar dois anos. É cedo para conhecer a resposta a esta extraordinária convocatória. Terá de ser avaliada segundo os continentes, os países e as dioceses do mundo católico que representa metade de todos os cristãos.

Não se pense que, na tradição cristã, isto de consultar a opinião pública seja uma novidade absoluta. Segundo os Evangelhos sinópticos, foi o próprio Jesus que a iniciou. Num momento difícil do seu itinerário, quis saber, não só o que pensavam os seus discípulos acerca dele, mas também o que diziam as multidões[1].

Perante o desejo do Papa Francisco, as expectativas são diferentes a todos os níveis e em todas as latitudes. O 7Margens fez um inquérito, enviado aos seus assinantes entre 24 de Setembro e 4 de Outubro de 2021. O questionário esteve também acessível a partir do próprio site do 7Margens. Recebeu 1.036 respostas válidas analisadas pelo seu grupo editorial: «Apesar de largamente cépticos (69,82%) em relação às mudanças que o Sínodo que agora começou provocará na Igreja Católica em Portugal e embora discordando (46,38) das práticas de participação existentes na comunidade católica, a esmagadora maioria dos leitores do 7Margens desejam que ao longo deste processo sejam auscultados todos os homens e mulheres que tomem a iniciativa de se pronunciar (47%) ou que sejam ouvidos não apenas o clero e as pessoas consagradas, mas também todos os leigos e leigas (42%)[2].

Esta iniciativa não precisa de ser aplaudida. Precisa de ser tomada a sério para que provoque muitas outras que ajudem a vencer o cepticismo e a indiferença acerca da maior consulta da história do Cristianismo.

No passado dia 12, em Fátima, numa conferência de imprensa, o Cardeal António Marto, revelou não só a sua fervorosa adesão a este Sínodo, mas também destacou a resistência passiva, não ideológica, na Igreja Católica em Portugal. A resistência passiva é a forma mais eficaz para que nada aconteça e sem que se possam identificar os responsáveis desse boicote.

Não se pode esquecer que, em Portugal, o Concílio Vaticano II (1922-1965), não foi preparado, não foi acompanhado nem levado a sério na Pastoral da Igreja. Não vale a desculpa de que vivíamos em ditadura e tínhamos um grande bispo no exílio. Era precisamente essa situação que exigia uma ruptura clara com regime do católico Salazar, que mantinha 3 frentes de guerra, presos políticos e a fuga clandestina do nosso pobre mundo rural.

Seria um desastre se deixássemos acontecer, com o Sínodo, o que se passou com a sorte do Concílio entre nós. Mas seria um desastre ainda maior se aceitássemos a situação morna da Igreja em Portugal como uma fatalidade.

2. Este Sínodo exige um processo de viragem, não de lamentações. O próprio da Igreja, numa situação destas, é dar-se conta que precisa de uma conversão radical. Não é a bênção do que já existe, embora deva ser reconhecido e destacado tudo o que há de positivo. Mas o Sínodo é sobre o que falta e é sobre o que falta que é preciso fazer das famílias, das paróquias, das instituições católicas, do grupo de amigos, da sociedade em geral, instâncias de escuta, de análise das situações e despertar as possibilidades amortecidas. Precisamos de promover uma santa agitação em todo lado. Nunca se pode dizer “aqui não há nada a fazer”. Foi numa situação limite que S. Paulo cunhou a expressão: esperar contra toda a esperança[3]. Porquê?

Porque, em primeiro lugar, é preciso acreditar que o Sínodo é um imperativo do Espírito de quem venceu a morte, Espírito de ressurreição. Temos de saber, hoje, o que este Espírito diz às nossas igrejas porque, como há dois mil anos, umas estão vivas e outras meio mortas[4].

Creio no Espírito Santo que é dado, não só às igrejas, mas a todas as pessoas que O acolherem. O Espírito de Deus não dispensa ninguém de trabalhar por um mundo diferente, pela cura do nosso mundo doente[5]. O Espírito de Deus não é uma reserva de alguns privilegiados, dentro ou fora das igrejas. Se não nos escutarmos uns aos outros, e não só os da nossa capelinha, tornamo-nos sectários. Não nos pertence impor condições, regras e caminhos à liberdade do Espírito. Seria uma pretensão absurda. Não deixamos espaço para o imprevisível. Esquecemos que o Espírito sopra onde quer. Não escutamos, julgamos que podemos dar ordens ao próprio Deus. Se escutarmos a imensa diversidade de situações das pessoas, nas diferentes culturas e maneiras de ser, vamos encontrar grandes e belas surpresas que vencerão as nossas presunções.

3. Se o Sínodo deve procurar envolver toda a Igreja e escutar as vozes preocupadas com o futuro, não posso esquecer o livro de Boaventura de Sousa Santos, O Futuro Começa Agora[6]. Pretende ser um diagnóstico crítico do presente e uma memória do futuro. A pandemia intensificou as desigualdades e as descriminações sociais que caracterizam as sociedades contemporâneas e deu-lhes maior visibilidade.

Por outro lado, uma Comissão de 100 personalidades está a promover uma Jornada Nacional, Memória & Esperança 2021, de Homenagem às vítimas da pandemia, que «visa mobilizar a sociedade portuguesa e suscitar a participação de todas as pessoas e instituições que o desejarem. A jornada visa dar densidade, rosto, vida e sentido coletivo aos números, estatísticas e gráficos com que todos fomos confrontados desde março de 2020. De modo especial, a jornada propõe-se prestar tributo aos que partiram, acolher o sofrimento e as narrativas dos que foram afetados pela pandemia e suas consequências e celebrar e agradecer a todos os que cuidaram da saúde e minoraram o sofrimento e a dor de tantos. Será também uma iniciativa para afirmar a vontade de viver em comunidades que não querem deixar ninguém para trás. A jornada ocorrerá no fim-de-semana de 22-23-24 de outubro de 2021 em um ou mais destes dias, podendo extravasar para dias anteriores ou posteriores».

Com o Alto Patrocínio do Presidente da República, foi publicado um Manifesto que pode ser lido e subscrito[7].

Temos razões para esperar contra toda a esperança.

 

Notas

[1] Lc 8, 18-21; Mt 16, 13-20; Mc 8, 27-30

[2] Remetemos para a leitura completa desse importante documento, https://setemargens.com

[3] Rm 4, 18

[4] Cf. Ap 2

[5] Cf. Eduardo Paz Ferreira, Como Salvar um Mundo Doente, Edições 70, 2021

[6] Boaventura Sousa Santos, O Futuro Começa Agora. Da Pandemia à Utopia, Edições 70, 2021

[7] https://memoriaeesperança.pt.

 

(In Público 17. Outubro. 2021)

Covid-19: Promotores de “jornada de memória” apelam à adesão da sociedade à iniciativa
Agência Lusa, 13 outubro 2021
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Lisboa, 13 out 2021 (Lusa) – Os promotores da ‘Jornada de memória, luto e afirmação da esperança’ desafiaram hoje as escolas, juntas de freguesia e atores culturais a aderirem à homenagem às vítimas da pandemia, promovendo atividades no penúltimo fim de semana de outubro.

A iniciativa marcada para os dias 22, 23 e 24 deste mês visa mobilizar a sociedade e suscitar a participação de todas as pessoas e instituições que o desejarem, tendo para isso sido criado o ‘site’ memoriaeesperanca.pt, onde estão anunciadas as iniciativas e podem ser submetidas propostas e ideias para serem desenvolvidas localmente.

Em declarações à agência Lusa, Jorge Wemans, da comissão promotora, explicou que esta iniciativa começou com “uma reflexão” que acabou por reunir uma centena de pessoas, as quais assinaram um manifesto divulgado no verão passado.

“[O manifesto] faz um desafio a que pensemos que vivemos esta pandemia em conjunto, que nos tocou a todos, e não apenas a cada um por si, e que dela saímos graças também ao esforço de todos”, disse Jorge Wemans.

Por outro lado, “orgulhamo-nos hoje pelo facto de Portugal ser o primeiro país do mundo que atinge o nível de 85% da sua população total vacinada e nós só chegámos lá graças a um esforço coletivo, um esforço conjunto, em que todos deram o melhor de si”, salientou.

A jornada é, no fundo, “o momento” para assinalar coletivamente “o luto pelas pessoas que morreram, por todas as pessoas que sofreram, por todos aqueles que não conseguiram acompanhar os seus familiares nos seus últimos momentos de vida, por todo o sofrimento e dor que a pandemia causou que é preciso não esquecer”.

Mas também é um momento para “afirmar a esperança de que somos suficientemente fortes para enfrentar estas crises, por mais violentas que elas sejam, e que a sociedade portuguesa no futuro será melhor do que foi no passado”, sublinhou o jornalista.

“De alguma forma este fim de semana ficará assinalado pelo facto de que, para além das diferenças regionais, de idade, de convicções religiosas, do que quer que seja, os portugueses se juntaram ao longo destes três dias para não deixar esquecer a pandemia” e celebrar a esperança, sustentou.

A comissão promotora vai realizar quatro iniciativas de âmbito nacional que envolvem as instituições mais representativas, mas desafia sobretudo as escolas, as juntas de freguesia, os atores culturais a tomarem a iniciativa e a desenharem as suas próprias atividades para estes três dias.

No ‘site’ estão delineadas mais de 30 iniciativas, algumas de escolas e de agrupamentos escolares que dia 22 vão inaugurar exposições, construir murais alusivos à pandemia ou plantar árvores.

Está também disponível no ‘site’ uma exposição de cartoons oferecidos por cartoonistas, como Luiz Afonso, Cristina Sampaio, André Carrilho, João Fazenda, que podem ser descarregadas para organizarem exposições.

Para o dia 24, está previsto que, ao meio dia, os sinos das igrejas e as sirenes dos bombeiros toquem durante três minutos e as famílias são convidadas a colocar uma vela, à noite, num espaço público coletivo ou na janela das suas casas.

“Haverá múltiplas iniciativas que serão formas de exprimir publicamente que não esquecemos aquilo que vivemos em conjunto e temos esperança de um Portugal melhor, de uma sociedade mais justa, mais fraterna, que é também um dos ensinamentos desta pandemia do modo como a atravessamos”, sublinhou Jorge Wemans.

No ‘site’, as pessoas podem também subscrever até ao dia 24 o manifesto, que conta já com cerca de um milhar de assinaturas.

O grupo que apresentou esta proposta, e que conta com o apoio do Presidente da República, é composto por cerca de 100 pessoas de várias áreas, figurando entre elas músicos, atores, escritores, médicos, políticos, jornalistas, juristas, entre outros.

A escritora Alice Vieira, o ex-ministro da Justiça Laborinho Lúcio, o psiquiatra Daniel Sampaio, o humorista Bruno Nogueira e os músicos Pedro Abrunhosa e Rui Veloso são alguns dos promotores desta jornada.

HN // ZO
Lusa/fim

Jornada de Luto, Memória e Esperança
Ouvido Crítico 103, 13 outubro 2021
Afirmar a esperança num Portugal outro
Jornal de Notícias, 4 outubro 2021

Memória e Esperança
Revista Cidade Nova, outubro 2021

Ler notícia

Jornal 2
RTP, 28 setembro (a partir dos 21’23”)
Caminhos
RTP, 26 setembro 2021

Um encontro a meio do caminho
Revista Mensageiro de Santo António, 3 setembro 2021

Reconstruir melhor
Coluna de Teresa de Sousa, Público, agosto 2021