Documentos

Marta Nunes

Pandemia

Síntese
Pandemia*, de Marta Nunes, é, possivelmente, o mais discreto dos mais belos testemunhos do tempo da pandemia. O livro de ilustrações teve duas edições de autor, limitadas, a primeira a 5o exemplares a segunda a 150, mas é indesejável que permaneça como um segredo apenas acessível a um tão reduzido número de pessoas.

“Pandemia (grego pandemía, -as, o povo inteiro) algo que se espalha a nível internacional e ao mesmo tempo é um turbilhão de emoções em cada um de nós. A cada dia os números de infetados aumenta, é notícia e é geral. Mas como vivemos nós a sós com o corpo que agora parece ainda mais frágil, sem poder abraçar, beijar quem nos dá alento. Somos um povo inteiro não apenas exposto a uma doença, mas também a como lidar com ela, essa ‘coisa’ que nos acompanha nas horas, nos dias, nos pensamentos.”

Marta Nunes diz que foi este o ponto de partida para a série de 60 ilustrações “que ajudam a contar a história de dias que se voltam a repetir na nova vaga da doença que virou 2020 do avesso”.

É provável que Pandemia esteja esgotado e é expectável que uma nova edição, com uma tiragem mais elevada e uma distribuição mais ampla, surja em breve para que ninguém lamente ter ficado privado de uma obra singular, “na esperança que seja apenas um memorial num futuro próximo e livre”.

*Edição de autor, s/d

Djaimilia Pereira de Almeida e Humberto Brito

Regras de isolamento

Síntese
Com textos de Djaimilia Pereira de Almeida e fotografias de Humberto Brito, Regras de isolamento* é “o registo muito pessoal” da vivência do primeiro confinamento imposto em 2020 pelo estado de emergência em consequência da crise mundial de saúde pública.

O livro da escritora e do fotógrafo inclui “anotações fotográficas, ficções, ensaios e crónicas”. Regras de isolamento tem também interrogações, como a do fotógrafo Robert Adams: “O que ajuda?”, e as reflexões que elas suscitam: “Perguntar pelo que ajuda é reconhecer que precisamos de ajuda, admitir que precisamos uns dos outros. Não sei que comprimido de cinismo mascara a consciência desta condição e antes quero morrer que tomá-lo, mas, às vezes, o cinismo são comprimidos que tomamos sem dar conta. Socorro-me dos meus amigos no fim da vida. Pessoas para quem um ano não é só mais um ano e que se sentem, de repente, de porta aberta para a morte. Penso nos meus amigos novos, para quem a Primavera de 2020 era a Primavera que decidiria tudo não decidindo nada (pelo menos não definitivamente). Uma legião de ajudados e de ajudantes, é como nos vejo.”

*Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2020

Fareed Zakaria
Dez lições para um mundo pós-pandemia
Síntese
Dez lições para um mundo pós-pandemia*, de Fareed Zakaria, autor de um conhecido programa da CNN sobre assuntos internacionais, difundido em Portugal pela RTP, é, como o título indica, uma reflexão sobre o que pode suceder após e em consequência da crise mundial de saúde pública.

As dez lições justificam atenção e a conclusão das Dez lições para um mundo pós-pandemia é particularmente promissora: “Nada está escrito”. É que, afirma Fareed Zakaria, ao contrário do que sucedeu em outras épocas, em que o rumo do mundo seguia rotas já delineadas, a pandemia impôs mudanças que podem agora “constituir o início de algo ou ser um mero sinal temporário”. “Temos muitos futuros diante de nós”, diz o autor. Cabe-nos a nós saber qual o que preferimos.

*Gradiva, 2020

Papa Francisco

Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?

Síntese

No dia 27 de Março de 2020, o Papa Francisco protagonizou um momento simbólico, que os católicos – assim os crentes em geral e mesmo descrentes – consideraram inesquecível. Nesse dia, no adro deserto da Basílica de S. Pedro, em Roma, no final da tarde chuvosa e triste, o Pontífice deu voz a duas interrogações: “Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”. As duas perguntas são o título de um livro, organizado pelo Dicastério para a Comunicação da Santa Sé, que recolhe a meditação que Francisco então partilhou.

O livro Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?* inclui múltiplas fotografias do singular dia da bênção extraordinária urbi et orbi, orações e, entre outros textos, os ensinamentos de Francisco sobre “o que devemos aprender com a pandemia” e “Um plano para ressurgir”, uma carta enviada a Vida Nueva, uma revista religiosa espanhola.

*Quixote, 2021.

Apresentação e excerto do livro nesta ligação:

Pré-publicação exclusiva 7M: A palavra precisa sempre do silêncio – como nasceu o “gesto planetário de libertação”

Donatella Di Cesare
Vírus Soberano? A Asfixia Capitalista
Síntese
O coronavírus “é um vírus soberano, a começar pelo nome. Escapa, sobrevoa, transpõe as fronteiras, passa para além. Escarnece da soberania que pretendia ignorá-lo grotescamente ou aproveitar-se dele. E torna-se o nome de uma catástrofe ingovernável que por todo o lado desmascara os limites de uma governance política reduzida a administração técnica. Porque o capitalismo – como sabemos – não é um desastre natural.”

Vírus Soberano? A Asfixia Capitalista* é o título de um dos primeiros ensaios sobre a pandemia editados em Portugal. Permanece como um dos mais relevantes.

Donatella Di Cesare, a autora, é professora de Filosofia Teórica na Universidade de Roma La Sapienza.

*Edições 70, Julho 2020. Tradução António Guerreiro

Gonçalo M. Tavares
Diário da Peste. O ano de 2020
Síntese
Diário da Peste. O ano de 2020*, de Gonçalo M. Tavares, começa no dia 23 de Março de 2020 e termina no dia 20 de Junho de 2020. Correspondeu a “uma pura necessidade”. Perante as imagens provenientes de Itália, o autor sentiu-se “bombardeado por bombardeiro nenhum”. “A minha atenção estava completamente atirada para as notícias e para a pandemia”, escreve Gonçalo M. Tavares, que acrescenta: “Ou ficava pasmado, e em corridas circulares em redor da mesa, com os meus cães, ou virava toda a energia para o que estava a acontecer”. Toda a atenção se concentrou, pois, na “tragédia” que começava.

Cada texto de Diário da Peste. O ano de 2020, explica o autor, foi escrito como se fosse o último: “Não no sentido de pensar que ia morrer ou que o mundo ia acabar, claro, mas no sentido de pôr toda a energia no dia do texto – não guardar munições para o dia seguinte: é tudo agora. E depois acordava no dia seguinte e colocava-me na mesma posição: é tudo agora”.

*Relógio d’Água, 2021

Daniel Sampaio

Covid 19 – Relato de um sobrevivente

Síntese

Ao escrever e publicar Covid 19 – Relato de um sobrevivente*, Daniel Sampaio cumpre dois objectivos, enunciados na introdução: “Em primeiro lugar, partilhar uma experiência única e muito dolorosa, mas que felizmente acabou em bem, com o intuito de encorajar a resistir quem possa vir a estar numa situação semelhante, E, para quem viveu um episódio similar, proporcionar uma reflexão que possa ser encorajadora para o futuro. Em segundo lugar, prestar homenagem a todos os profissionais de saúde que de mim cuidaram com excecional competência e inexcedível carinho, com a esperança de que o seu trabalho possa ser mais conhecido e valorizado”.

Covid 19 – Relato de um sobrevivente surge, de certo modo, na sequência de uma entrevista que Daniel Sampaio concedeu à jornalista do Expresso Christiana Martins. O extraordinário depoimento sobre a dura provação que vivera teve, como se sabe e o autor reconhece, “um profundo impacto em muitas pessoas”.

A leitura deste Relato de um sobrevivente recomenda-se, sobretudo, por ser um fortíssimo testemunho do nosso incerto momento presente, mas também por tornar assaz persuasivo um apelo em defesa do nosso Serviço Nacional de Saúde.

*Caminho, 2021

Luke Adam Hawker

Juntos

Síntese

Juntos* começa com um desenho de um homem que coloca a trela no cão antes de se aventurar no bulício urbano. Por baixo, uma legenda constata: “A vida pode parecer uma máquina que não se detém. Não há tempo para parar. O relógio corre, e nós precisamos sempre de chegar a algum lugar”.

Poucas páginas à frente, surge uma imprevista ameaça sob a forma de “nuvens negras”, prenunciadoras de tempestade. Na mesma página, duas dúvidas: “Quando virá? Quanto durará?”

Os belos desenhos de Luke Adam Hawker e o texto simples e optimista de Marianne Laidlaw documentam, a seguir, o que se passou na sequência da medida de prevenção tomada, o confinamento, e terminam com uma mensagem de esperança ou, se se preferir, um desafio: “Ainda que outras nuvens se possam juntar, ainda que possam chegar novas tempestades, saberemos sempre, e acima de tudo, que somos mais fortes diante delas se estivermos juntos”.

*Porto Editora, 2021. Tradução: Valter Hugo Mãe

Chimamanda Ngozi Adichie

Notas sobre o luto

Síntese

“À minha pergunta «Estás bem, papá?», ele respondia sempre: «Enwerom nsogbu chacha.» Não tenho problemas nenhuns. Estou ótimo. E realmente estava. Até deixar de estar.” O pai é o académico James Nwoye Adichie, o primeiro professor de Estatística da Nigéria, a filha é a escritora Chimamanda Ngozi Adichie. A morte do pai no dia 10 de Junho de 2020 fez nascer Notas sobre o luto*, um livro pungente que regista também a morte da tia predilecta, a irmã mais nova da mãe, e outra tia, a única irmã do pai. “As perdas eliminaram tantas camadas, que a vida parece fina como papel”.

O professor James Nwoye Adichie oficialmente morreu de complicações decorrentes de uma insuficiência renal, mas Chimamanda Ngozi Adichie interroga-se sobre se ele não teria sido exposto ao coronavírus quando uns jornalistas o entrevistaram em casa sobre o milionário que queria tomar posse das terras da aldeia da família, na Nigéria, uma disputa que a filha diz ter consumido o pai nos dois anos anteriores.</span

O livro de Chimamanda Ngozi Adichie é sobre uma traumática experiência pessoal – “Não devia ter acontecido assim, como uma surpresa maldosa, muito menos durante uma pandemia que encerrou o mundo – e sobre essa “forma cruel de aprendizagem”, que é o luto, apresentado na sua dimensão universal e na forma ibo, a forma africana de com ele lidar.

Notas sobre o luto assinala ainda o que mudou em Chimamanda Ngozi Adichie: “Uma nova voz emerge da minha escrita, carregada da proximidade que sinto da morte, a consciência da minha própria mortalidade, presa por um fio tão fino, tão intenso. Uma sensação nova de urgência. Uma impermanência no ar.”

*Publicações D. Quixote, 2021. Tradução: Tânia Ganho

Alizera Pakdel

Homenagem aos profissionais da linha da frente

Síntese
Série de cartoons com que o ilustrador iraniano Alizera Pakdel homenageou o comportamento dos profissionais da linha da frente, sobretudo o pessoal de saúde, durante a pandemia. Pakdel é um dos mais famosos ilustradores, tendo ganho, entre outros prémios, o World Press Cartoon de 2017 com um cartoon intitulado “Imigrants”. Este conjunto de ilustrações que aqui se  reproduzem foi também divulgado pelo município de Peniche na primavera de 2020.

Projetos e Iniciativas de outros

  • SOLIVID é um projeto coletivo para a construção de um mapa colaborativo e um banco de recursos on-line sobre as iniciativas de solidariedade diante da crise do COVID-19.
  • In America: Remember é uma exposição de arte que cobre o National Mall (em Washington) com mais de 660.000 bandeiras brancas para homenagear cada pessoa que morreu de COVID-19 nos EUA
  • Día de la Condolencia y el Adiós – Mais de 40 mil pessoas morreram no Chile sós, sem a companhia de familiares e amigos. As rádios chilenas organizaram um ritual comunitário de adeus às vítimas, procurando “o reconhecimento e a recuperação de nossa humanidade diante da morte.”